Devemos acreditar em algumas afirmativas quando pensamos na rede interna de comunicação de uma edificação:
- Não há uma solução única;
- Não há solução milagrosa;
- Qualidade, barato/caro, relação benefício/custo, IoT, automação, integração, prédio inteligente, etc, são conceitos que precisam ser discutidos e entendidos antes de se falar em quais serão as escolhas;
- Não se engane. Escolha no máximo duas metas entre: "barato", "rápido" e "bom" (barato e rápido não é bom, bom e barato não é rápido, bom e rápido é caro);
- A "melhor solução" é sempre eleita a partir de uma matriz multidimensional de compromissos: requisitos do proprietário, principalmente em relação aos recursos e ao conforto desejados, adequação da edificação à sua missão, grau de colaboração da rede interna com o negócio, normas técnicas, custo, entre outros;
- As dimensões dessa matriz não são variáveis independentes. Todas nos levam, inevitavelmente, à dimensão "custo" e as relações entre elas não são lineares nem simples.
Ao
contratar a elaboração do projeto da rede interna de uma edificação, a primeira pergunta a ser feita deve ser "como a energia elétrica será distribuída?"
Basicamente temos três
alternativas:
· Instalação elétrica convencional: não possui
qualquer automação. Os quadros elétricos
alimentam circuitos de iluminação e tomadas, sem qualquer controle
automatizado.
· Instalação elétrica automatizada com
distribuição em baixa tensão alternada (110 ou 220 volts). Os circuitos podem
ser interrompidos ou dimerizados, conforme
o projeto;
· Instalação elétrica automatizada para a
iluminação, com distribuição em baixa tensão contínua (40 a 60 volts) com
sensoriamento (iluminação, temperatura e movimento), e baixa tensão alternada (110
ou 220 volts) para as tomadas. Haverão dois tipos de circuitos: AC (corrente
alternada) e DC (corrente contínua);
Ao se escolher a primeira opção, estaremos
praticamente eliminando a automação do projeto da rede interna, obviamente, uma
vez que a iluminação e as tomadas são o principal foco da automação. Mas é
possível que ainda seja desejada alguma automação de outros subsistemas, como
motores, controle de acesso, sonorização, etc. Esta alternativa é a que tem os
menores custos de implantação e manutenção.
Ao se escolher a segunda opção, abrimos
um leque de possibilidades para controlar o fornecimento de energia na edificação.
Atualmente a diferença do custo de implantação desta para a primeira
alternativa é pequena - diria que fica entre 10 e 20%. Considerando que uma instalação
elétrica custa cerca de 5% do valor da obra, estamos falando de 0,5 a 1% de
acréscimo no custo global da obra para se obter uma edificação automatizada. A
desvantagem aqui é a manutenção, que pode ser um pouco mais cara. Minha
recomendação é que a escolha, entre as duas primeiras alternativas, grosso modo,
seja pela segunda. Esta é uma abordagem simplificada. Naturalmente há outros
aspectos envolvidos.
A terceira alternativa consiste em enviar energia para as luminárias utilizando um cabo de rede comum (categoria 5e ou 6) e enviar/receber comandos da luminária por esse mesmo cabo de rede. A tecnologia para alimentar dispositivos remotos pelo cabo de rede já está padronizada desde 2003 e é conhecida como PoE (Power over Ethernet). Leia artigo PoE e a alimentação pelo cabo de rede
A tecnologia de alimentar
luminárias por cabo de rede também está sendo chamada de "teto inteligente"
(smart ceiling) e iluminação PoE (PoE lighting). Desta forma as luminárias
seriam conectadas diretamente a switches de rede com capacidade de PoE, ou um
sistema similar. Os padrões estão caminhando para se conseguir enviar 100 W
pelo cabo de rede, mas atualmente, o padrão 802.3at consegue alimentar tranquilamente
uma luminária de LED com até 25 W. Alguns fabricantes de luminárias estão
desenvolvendo LEDs mais eficientes, o que leva a edificação mais perto de um
projeto "à prova de futuro", mais verde, mais flexível. Entretanto, a
terceira alternativa ainda possui um custo elevado e falta padronização de
mercado. Leia artigo Quarta Geração de Iluminação Elétrica: O Fim do Quadro Elétrico
O custo desta alternativa pode ultrapassar
o dobro da anterior. O principal benefício é que teremos uma malha de sensores,
em geral dois ou três sensores (temperatura, iluminação e movimento) por
luminária, que ajuda a mapear o que está acontecendo na edificação e, portanto,
reduz ainda mais o consumo de energia, colabora com o sistema de segurança, e envia
informações de ocupação dos ambientes. Apesar de apresentar algumas vantagens
que não temos na alternativa anterior, resta saber se o benefício vale o acréscimo
de custo a ser pago.
Uma das vantagens da automação é fornecer
flexibilidade à edificação, capacidade de se comportar de diferentes formas,
inclusive coletando não só parâmetros de máquinas (medidores e sensores), mas
também dos humanos (indicadores de opinião dos usuários da edificação), que
alimentarão o cérebro da automação para transformar a edificação em um ambiente
mais agradável, útil e econômico.
De qualquer forma, a pergunta não
deve ser respondida de pronto. É um assunto a ser pensado juntamente com o
proprietário.
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