domingo, 27 de novembro de 2016

Rede interna: por onde começamos?





Devemos acreditar em algumas afirmativas quando pensamos na rede interna de comunicação de uma edificação:

  • Não há uma solução única;
  • Não há solução milagrosa;
  • Qualidade, barato/caro, relação benefício/custo, IoT, automação, integração, prédio inteligente, etc, são conceitos que precisam ser discutidos e entendidos antes de se falar em quais serão as escolhas;
  • Não se engane. Escolha no máximo duas metas entre: "barato", "rápido" e "bom" (barato e rápido não é bom, bom e barato não é rápido, bom e rápido é caro);
  • A "melhor solução" é sempre eleita a partir de uma matriz multidimensional de compromissos: requisitos do proprietário, principalmente em relação aos recursos e ao conforto desejados, adequação da edificação à sua missão, grau de colaboração da rede interna com o negócio, normas técnicas, custo, entre outros;
  • As dimensões dessa matriz não são variáveis independentes. Todas nos levam, inevitavelmente, à dimensão "custo" e as relações entre elas não são lineares nem simples.

Ao contratar a elaboração do projeto da rede interna de uma edificação, a primeira pergunta a ser feita deve ser "como a energia elétrica será distribuída?"

Basicamente temos três alternativas:

·  Instalação elétrica convencional: não possui qualquer automação. Os quadros  elétricos alimentam circuitos de iluminação e tomadas, sem qualquer controle automatizado.

·  Instalação elétrica automatizada com distribuição em baixa tensão alternada (110 ou 220 volts). Os circuitos podem ser interrompidos ou dimerizados, conforme  o projeto;

·    Instalação elétrica automatizada para a iluminação, com distribuição em baixa tensão contínua (40 a 60 volts) com sensoriamento (iluminação, temperatura e movimento), e baixa tensão alternada (110 ou 220 volts) para as tomadas. Haverão dois tipos de circuitos: AC (corrente alternada) e DC (corrente contínua);

Ao se escolher a primeira opção, estaremos praticamente eliminando a automação do projeto da rede interna, obviamente, uma vez que a iluminação e as tomadas são o principal foco da automação. Mas é possível que ainda seja desejada alguma automação de outros subsistemas, como motores, controle de acesso, sonorização, etc. Esta alternativa é a que tem os menores custos de implantação e manutenção.

Ao se escolher a segunda opção, abrimos um leque de possibilidades para controlar o fornecimento de energia na edificação. Atualmente a diferença do custo de implantação desta para a primeira alternativa é pequena - diria que fica entre  10 e 20%. Considerando que uma instalação elétrica custa cerca de 5% do valor da obra, estamos falando de 0,5 a 1% de acréscimo no custo global da obra para se obter uma edificação automatizada. A desvantagem aqui é a manutenção, que pode ser um pouco mais cara. Minha recomendação é que a escolha, entre as duas primeiras alternativas, grosso modo, seja pela segunda. Esta é uma abordagem simplificada. Naturalmente há outros aspectos envolvidos.

A terceira alternativa consiste em enviar energia para as luminárias utilizando um cabo de rede comum (categoria 5e ou 6) e enviar/receber comandos da luminária por esse mesmo cabo de rede. A tecnologia para alimentar dispositivos remotos pelo cabo de rede já está padronizada desde 2003 e é conhecida como PoE (Power over Ethernet). Leia artigo  PoE e a alimentação pelo cabo de rede


A tecnologia de alimentar luminárias por cabo de rede também está sendo chamada de "teto inteligente" (smart ceiling) e iluminação PoE (PoE lighting). Desta forma as luminárias seriam conectadas diretamente a switches de rede com capacidade de PoE, ou um sistema similar. Os padrões estão caminhando para se conseguir enviar 100 W pelo cabo de rede, mas atualmente, o padrão 802.3at consegue alimentar tranquilamente uma luminária de LED com até 25 W. Alguns fabricantes de luminárias estão desenvolvendo LEDs mais eficientes, o que leva a edificação mais perto de um projeto "à prova de futuro", mais verde, mais flexível. Entretanto, a terceira alternativa ainda possui um custo elevado e falta padronização de mercado. Leia artigo Quarta Geração de Iluminação Elétrica: O Fim do Quadro Elétrico

O custo desta alternativa pode ultrapassar o dobro da anterior. O principal benefício é que teremos uma malha de sensores, em geral dois ou três sensores (temperatura, iluminação e movimento) por luminária, que ajuda a mapear o que está acontecendo na edificação e, portanto, reduz ainda mais o consumo de energia, colabora com o sistema de segurança, e envia informações de ocupação dos ambientes. Apesar de apresentar algumas vantagens que não temos na alternativa anterior, resta saber se o benefício vale o acréscimo de custo a ser pago.

Uma das vantagens da automação é fornecer flexibilidade à edificação, capacidade de se comportar de diferentes formas, inclusive coletando não só parâmetros de máquinas (medidores e sensores), mas também dos humanos (indicadores de opinião dos usuários da edificação), que alimentarão o cérebro da automação para transformar a edificação em um ambiente mais agradável, útil e econômico.


De qualquer forma, a pergunta não deve ser respondida de pronto. É um assunto a ser pensado juntamente com o proprietário.

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