Fig.: Cabo com 45 filetes, especial
para alto-falante
A
distribuição de áudio na rede interna das edificações se faz cada vez mais
presente. Como escolher o cabo que liga os amplificadores aos alto-falantes?
Nas
residências, em geral a situação é mais crítica, sem dúvida, em função do home
theater, mas em toda edificação com distribuição de som ambiental essa questão também
deve ser avaliada.
Há vários
aspectos a serem considerados no projeto da rede interna com relação ao home
theater, como por exemplo: posicionamento dos alto-falantes, conectores, encaminhamento
e proteção dos cabos, painéis de manobra, elementos geradores de ruído e calor,
proteção elétrica, etc.
Hoje vamos
abordar o cabo do alto-falante. Alguns defendem que é um componente importante,
outros acham que nem tanto e alguns dizem que não faz a mínima diferença, mas o
fato é que essa polêmica sempre ressurge se o assunto é home theater. Quando a
discussão esquenta, a receita do bolo vai ganhando um tempero mais de
engenharia, mais teórico, mais eletrônico. Entretanto, a parcela imponderável e
subjetiva tem um peso considerável.
Algumas pessoas
já me perguntaram qual seria o melhor cabo para ligar o receiver do home
theater às caixas de som e alto-falantes de teto ou parede e, para ser sincero,
ainda estou em busca de uma resposta simples e direta, se é que ela existe.
Conduzi algumas experiências em meu laboratório, aqui em
casa, mas elas apenas confirmaram que o assunto é mais complexo do que se pode imaginar.
Pelo lado da eletrônica é possível constatar com medidas que a resposta em
frequência do sistema se altera em função do cabo utilizado mas, na prática, o
ouvido pouco percebe.
O cabo é do tipo paralelo, ou seja, possui duas vias de
condutores de cobre, classificados como flexíveis, formados por um conjunto de
filetes de cobre. Uma capa isolante envolve os condutores.
A característica mais importante é a bitola do cabo, que
reflete a área transversal de seus condutores. Quanto maior, melhor, com
relação à resistência elétrica, ou seja, quanto maior a bitola do cabo, menor
sua resistência elétrica, mas há uma faixa aceitável que varia com a impedância
do alto-falante e o comprimento do cabo. Em geral a bitola fica entre 18 AWG (0,8
mm2) e 12 AWG (3,3 mm2) considerando o padrão americano,
ou entre 1 e 4 mm2, considerando o sistema métrico.
O cabo deve ter uma bitola que garanta uma resistência
máxima de 10% (norma internacional CEA) da impedância do alto-falante. Por
exemplo, um cabo 18 AWG possui 0,021 ohms/m. Se usarmos alto-falantes
de 4 ohms, a resistência do cabo deve ser menor que 0,4 ohms, ou seja, o cabo
deve ser menor que 20 metros. É uma opção de projeto. Há quem prefira limitar a
5% e até a 2,5%. Tomando a condição mais eficiente, ou seja, uma resistência
menor que 2,5%, no exemplo citado o cabo ficaria limitado a 5 metros de
comprimento.
O
valor nominal da resistência por metro de um cabo de cobre nem sempre é
encontrado na prática, nos cabos comerciais, pois a composição química deles
pode conter outros componentes mais baratos que o cobre. Por exemplo, um cabo de cobre puro com bitola
de 12 AWG deve ter uma resistência nominal de 0,0052 ohms/m, mas na prática varia de 0,0065
a 0,0300 ohms/m. Os cabos mais sofisticados
(e mais caros) tendem a ter resistência menor.
Outro parâmetro importante do cabo é sua capacitância por
metro, normalmente medida em picoFarads por metro (pF/m), que varia de 12 a 40
pF/m. Quanto menor a capacitância, melhor é a resposta em frequência do cabo.
Os cabos profissionais para conexão de alto-falantes em
geral são construídos com ligas de cobre e fósforo com baixo teor de oxigênio.
Especificamente para home theater a norma CEA recomenda cabo OFHC (Oxygen-Free
High Condutivity – alta condutividade, livre de oxigênio).
Outra
característica, relacionada com o desempenho do cabo é a quantidade de filetes
de cobre. Por exemplo, recomenda-se para uso geral em sonorização, que o cabo possua
26 filetes e, quando aplicado em home theater, 45 filetes. Quanto mais filetes,
melhor a resposta nas altas frequências, em função do efeito “skin”, segundo o
qual as componentes de maior frequência tendem a viajar pela periferia (área
mais externa) do condutor.
Nos
circuitos de maior impedância, ou seja, além dos 4 ou 8 ohms utilizados no home
theater, a influência do cabo cai, dando lugar aos circuitos de saída com
impedância maior e transformadores de linha.
Então, a qualidade do sistema cresce na medida em que
escolhemos um cabo de menor resistência e menor capacitância. Mas até que ponto
essa melhoria é perceptível? Até que ponto devemos sobrecarregar o custo para
atingir uma determinada qualidade, e que qualidade é essa?
Na prática, a diferença no som é pequena. Depende
fortemente da característica de impedância do alto-falante e apenas ouvidos
privilegiados conseguem notar, mesmo assim se a variação na resposta em
frequência ocorrer em pelo menos um terço de oitava e ultrapassar 0,3 dB
(decibéis).
Como sempre, convém seguir a dica de Aristóteles: a virtude
está no meio termo. A escolha do cabo deve seguir a linhagem do restante do
sistema: para alto-falantes de baixo custo o cabo não faz a menor diferença, mas
para alto-falantes de qualidade convém caprichar um pouco mais no cabo.
Enfim, é preciso entender o contexto e conhecer os
limites práticos para definir a solução: para o home theater, se não houver
algum requisito especial, recomendo utilizar um cabo que acrescente, no máximo,
uma resistência de 5% da impedância da carga (alto-falante) e possua capacitância
igual ou menor que 25 pF/m, além de observar
as recomendações das normas, é claro.