Um aspecto importante da rede interna de telecomunicações é como
os equipamentos terminais recebem alimentação elétrica. Isso faz grande
diferença, a começar pelo projeto.
O tradicional é que cada equipamento tenha sua própria fonte
e se conecte a uma tomada elétrica. Esta solução traz algumas desvantagens,
conforme veremos adiante.
Uma solução que vem ganhando espaço, é alimentar os
equipamentos terminais pelo próprio cabo de rede, a partir de fontes
localizadas na sala de equipamentos (ER).
Duas tendências atuais, uma de redução no consumo de energia
dos equipamentos eletrônicos e outra de conectá-los em rede, está viabilizando
cada vez mais a alimentação desses equipamentos pelo cabo de rede.
Há dois esquemas interessantes de alimentação pelo cabo:
- · PoE: Power over Ethernet, especificado na norma IEEE 802.3at
- · HDbaseT: High Definition base Twisted Pair, criada por uma aliança de fabricantes de equipamentos
PoE é um esquema para enviar alimentação
elétrica pelo cabo de rede, associado ao protocolo Ethernet, juntamente com os
sinais de dados, de um equipamento fornecedor da alimentação (PSE = Power Source Equipment),
normalmente um switch, para o equipamento a ser alimentado pelo cabo (PD = Powered Device).
A norma IEEE 802.3at, publicada em 2009, define alimentação
de equipamentos com até 25,5 Watts em dois pares e 51 Watts em quatro pares. Substitui
a norma anterior (IEEE 802.3af), que era de 13 Watts. Veja tabela 1.
Para ser alimentado pelo cabo, um equipamento em rede deve ter
sido construído especificamente isso, atendendo a uma norma e ter seu consumo
de energia dentro da capacidade do PSE.
A alimentação pelo cabo tem as seguintes vantagens:
- · Instalação mais simples (basta plugar na tomada de rede)
- · Permite gerenciar a energia fornecida
- · Maior confiabilidade e segurança (alimentação centralizada)
A potência de 25,5 W pelo cabo da rede é suficiente para alimentar câmeras de vídeo,
telefones IP, transmissores wireless, sensores e outros, mas câmeras PTZ e monitores precisam de mais
energia.
A tabela mostra outros parâmetros da norma mais recente
(802.3at), da sua antecessora (802.3af) e da aplicação em 4 pares (High Power).
Tipo 1
|
Tipo 2
|
High Power
|
|
Padrão IEEE
|
802.3 af
|
802.3 at
|
802.3 at
|
Ano de publicação
|
2003
|
2009
|
2009
|
Categoria mínima
do cabo
|
Categoria
3
|
Categoria
5e
|
Categoria
5e
|
Resistência enlace [ohms]
|
<
20
|
<
12,5
|
2 x < 12,5
|
Potência fornecida
pelo PSE
|
15,4 w
|
30 w
|
60 w
|
Potência consumida
pelo PD
|
13 w
|
25,5 w
|
51 w
|
Tensão nominal de
saída no PSE
|
48 v
|
53 v
|
53 v
|
Faixa de tensão de
saída no PSE
|
44 a 57
v
|
50 a 57
v
|
50 a 57
v
|
Corrente máxima
por enlace
|
350 mA
|
600 mA
|
2 x 600
mA
|
Quantidade de
enlaces
|
1
|
1
|
2
|
Quantidade de
pares
|
2
|
2
|
4
|
Temperatura
ambiental máxima
|
60 °C
|
50 °C
|
|
Restrição por
feixe de cabo
|
---
|
<
5 kW
|
Tabela 1: Parâmetros
PoE
O cabo de rede possui 4 pares trançados de fios de cobre,
normalmente com bitola entre 23 AWG (diâmetro de 0,573 mm) e 24 AWG (diâmetro
de 0,511 mm). A resistência à corrente contínua de um par, com seus condutores
em paralelo, fica abaixo de 5 ohms para 100 metros de cabo, ou seja, abaixo de 10 ohms para o enlace completo, o que
satisfaz a condição da tabela (< 12,5 ohms).
Há três métodos básicos para levar a corrente elétrica de
alimentação do PSE ao PD:
A.
Usando
os pares reserva (que não transmitem dados)
B.
Usando
os mesmos pares que transmitem os dados (Phantom Power)
C.
Usando
os quatro pares
A figura 1 ilustra o método A, onde a corrente circula pelos
pares 4-5 e 7-8 e os dados circulam pelos pares 1-2 e 3-6.
Fig. 1: PoE pelo método A
A figura 2 ilustra o método B, onde a corrente e os dados
circulam pelos pares 1-2 e 3-6. Este método é conhecido como “Alimentação
Fantasma” (Phantom Power”) muito usado em áudio, para levar alimentação até o
microfone. A alimentação sai pelo tap central do transformador de linha do PSE,
segue pelos dois condutores do par correspondente e sai pelo tap central do
transformador de linha do PD.
Fig. 2: PoE pelo método B – Phantom Power
A figura 3 ilustra o método C, onde a corrente circula por
todos os pares do cabo, inclusive os pares 1-2 e 3-6 que também carregam os
dados. Este método é utilizado para transmitir mais energia, já que aproveita
todos os pares (High Power).
Fig. 3: PoE pelo método C – Quatro Pares
A norma IEEE 802.3at prevê classes de consumo de energia.
Veja a tabela 2.
Potência fornecida
[W]
|
Corrente de classificação [mA]
|
|
Classe 0
|
0,5 a 15,4
|
0 a 4
|
Classe 1
|
0,5 a 4
|
9 a 12
|
Classe 2
|
4 a 7
|
17 a 20
|
Classe 3
|
7 a 15,4
|
26 a 30
|
Classe 4
|
15,4 a
30
|
34 a 44
|
High Power
|
30 a 60
|
acima
|
Tabela 2: Classes de consumo PoE
A operação PoE incorpora um protocolo de inicialização,
normalmente executado por ships especiais instalados na eletrônica do PSE e do
PD, que permite ao PSE descobrir quanta energia o PD precisa.
Há basicamente três fases:
Descobrimento: o dispositivo PD apresenta uma
resistência entre 23.75 e 26.25 kΩ, o PSE varia a tensão na linha (entre 2,8 e
10 v) e entende que há um dispositivo PoE na outra extremidade. No caso
especial de 51 W a resistência será de 12,5 kΩ.
Classificação: o PSE coloca uma tensão na linha e
mede a corrente, cujo valor define a classe do dispositivo PD.
Operação: O PSE fornece a alimentação
solicitada, conforme fase anterior, e o PD inicia sua operação normal.
Fig.
4: Fases do handshake
A figura 4 foi extraída da especificação do ship LM5073, um
controlador de recepção PoE segundo a IEEE 802.3af, fabricado pela National
Semiconductors.
O PoE é mais do que um simples esquema de alimentar
equipamentos pelo cabo de rede. Alguns switches permitem configurar alguns
parâmetros em relação ao PoE, como por exemplo:
- · Habilitar ou desabilitar o PoE em cada porta
- · Definir qual a potência máxima que cada porta pode fornecer
- · Definir a potência máxima que o switch pode fornecer
Estes recursos tornam o PoE ainda mais interessante.
Mas há um pequeno efeito colateral em se usar PoE, que é a
elevação da temperatura nos feixes de cabos que são lançados nas eletrocalhas e
eletrodutos. Estudos mostram que a temperatura pode subir 7,2 °C em um feixe de
100 cabos categoria 5e, carregando PoE de 600 mA. Mais uma vantagem para os
cabos de categoria maior: cabos categoria 6 e 6A elevam a temperatura em 5 °C e
os cabos categoria 7A elevam a temperatura em menos de 3 °C.
O aumento de temperatura do cabo tem o mesmo efeito de
aumentar seu comprimento. As especificações de desempenho dos cabos são
publicadas para uma temperatura ambiente de 20 °C. Estudos da BICSI mostram que
um enlace com cabo categoria 5e pode “ganhar” 18 metros se for UTP e 7 metros
se for blindado, quando a temperatura atinge 60 °C. Então, se um enlace UTP
possui, digamos, 85 metros, ele se
comportaria a 60 °C como se tivesse 103 metros e isso pode ser o suficiente
para que o enlace apresente erros fazendo a taxa efetiva de transmissão cair.
HDbaseT
A norma HDbaseT, desenvolvida por uma associação de
fabricantes de equipamentos de AV (LG, Sansung, Sony e Valens), define a
transmissão de sinal de áudio e vídeo sem compressão pelo cabo de rede
(categoria 6) alimentando o equipamento PD com até 100 W.
As TVs LED atualmente consomem de 50 a 300 W, mas a tendência é que elas consumam 1 W para cada polegada de sua diagonal de tela. Por
exemplo, espera-se que uma TV 40 polegadas venha a consumir por volta de 40 W. A
Energy Star, um agência de proteção ambiental americana, está estabelecendo um
selo de produto que limita o consumo das TVs a 85 W.
A norma HDBaseT é bastante conveniente, na medida em que
permite conectar todos os equipamentos AV de uma residência ou uma empresa, em
rede, fornecendo alimentação a partir de um único ponto: a sala de
equipamentos. Um projeto de rede interna, segundo a metodologia OSD, será feito
antes do projeto da instalação elétrica e pode dispensar tomadas de energia
elétrica junto aos pontos de TV, se considerar o protocolo HDbaseT para
distribuição de áudio e vídeo. Obviamente é uma decisão ousada do projetista,
mas a tendência é essa. A quantidade de tomadas elétricas tende a diminuir
devido aos esquemas de alimentação pelo cabo como o PoE e o HDBaseT.
Consequentemente, a importância da sala ER (sala de
equipamentos) cresce, tanto nas corporações quanto nas residências.
ótimo artigo, POE, não é só "POE"
ResponderExcluirMuito bom,obrigado
ResponderExcluirBoa noite,
ResponderExcluirAfinal como vou saber qual é o gnd e qual é o vcc?
Celio, o gnd está em baixo (0V) e o vcc está em cima (+V). Para ampliar a figura, clique em cima dela - aí vai dar pra ler bem.
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