O que o conector RJ45 tem a ver com a rede interna? Tudo.
O conector mais conhecido da face da Terra possui bilhões de
unidades vendidas e presentes em todas as instalações de rede interna de
comunicação de dados nas edificações e salas de equipamentos. É uma marca
espantosa.
Essa pequena peça
plástica costuma provocar discussões, sendo que a primeira questão é em relação ao seu
nome.
Apesar dessa fama toda, ele é pouco conhecido pelo seu verdadeiro
nome: "conector modular de 8 posições". Modular porque possui 8
posições para contatos elétricos que podem ou não estar montados, conferindo
economia conforme a aplicação. Por exemplo, um conector de 8 posições com 8
contatos ficou conhecido como "8p8c".
Há conectores modulares de seis e de oito posições. Não é raro encontrarmos o
conector 6p2c, montado nos cabos que
acompanham os modems roteadores, os quais possuem 6 posições mas apenas dois
contatos elétricos.
Mas porque o conector é chamado de "RJ45"?
Isso vem da época em que a empresa americana de serviços de
telefonia, Bell System, resolveu dar nomes às interfaces entre o equipamento do
usuário e a rede pública de telefonia, usando o padrão USOC (Universal Service Order Code). As
interfaces foram batizadas de "Registered Jack" (RJ) e utilizavam conectores modulares. Entre os diversos tipos de
interface definidos, temos o RJ11
(com conector modular de 6 posições) e o RJ45S
(com conector de 8 posições).
O problema é que as interfaces definidas nos "Registered
Jacks" utilizam dois tipos de conectores:
sem polarizador e com polarizador (keyed), um ressalto lateral que
o impede de se encaixar na tomada 8p8c
sem a ranhura desse polarizador. Existe a
interface RJ45S, com conector 8p8c polarizado. Existe o conector 8p8c não
polarizado. O conector não polarizado encaixa na tomada polarizada, mas o
inverso não funciona: o conector polarizado não encaixa na tomada sem ranhura.
Assim, a rigor, sinto ter que falar isso, mas "RJ45"
não existe. Atualmente a tomada também é chamada de RJ45. Está estabelecida a
confusão. Ninguém lembra da polarização.
RJ45S, abreviação de "Registered Jack 45S", é a
denominação de uma interface, e não de um conector. A definição de uma
interface elétrica inclui, além do conector, a aplicação, a configuração dos
fios, etc.
Entretanto, o conector 8p8c e sua respectiva tomada, ambos
não polarizados, foram adotados para as conexões de dados e passaram a ser
chamados simplesmente de RJ45. Nada de mais. Nada errado. Só uma questão de convenção.
Digamos que "RJ45" pegou, quando se quer falar do conector modular
8p8c não polarizado.
Bem, já que a linguagem atual adotou o termo "RJ45"
como nome para o conector 8p8s não polarizado, acho que podemos chamá-lo assim,
mas sempre tomando o cuidado para conferir se o interlocutor tem o mesmo entendimento.
Fig. 2: Conector RJ45 - numeração das posições, pares e cores dos cabos
Interessante lembrar que o par nº 1 (azul) é o que deve ser
utilizado pela telefonia analógica, se for o caso.
A segunda questão é sobre seu inventor.
Em geral é difícil dizer, rigorosamente, quem é o inventor de
uma peça ou processo produtivo, pois precisamos saber quem são os autores das patentes
envolvidas. Mesmo assim, precisamos decidir em quem queremos acreditar. É um
assunto macarrônico. Atualmente as tecnologias utilizam várias invenções
patenteadas e é frequente a discussão ir parar na justiça. Os inventores querem
vender suas ideias patenteadas aos fabricantes de equipamentos e ganhar
royalties sobre a venda dos produtos que se beneficiaram. Além disso, se
observarmos a evolução de um determinado
conhecimento técnico, no âmbito das patentes, veremos que há uma sequência onde
as mais recentes partem de algo já estabelecido, mas também há trabalhos praticamente
em paralelo, sempre movidos por uma sinergia circunstancial.
Fig. 3: Figura extraída do documento da patente de Edwin Charles Hardesty
Alguns acreditam que
o conceito tomou forma com o trabalho dos engenheiros William Jacob Brorein e
Nicholas Humen, ambos de Nova Jersey, patenteado em Janeiro de 1974 sob o
número 3,789,344.
Fig. 4: Figura extraída do documento da patente
de William Jacob Brorein
Outras patentes, registradas pelos engenheiros Donald Hughes
e Ronald Myers por volta de 1980, evoluíram bem o conceito, solidificaram as ideias
do conector modular e praticamente fecharam o ciclo básico. Entretanto,
patentes sobre melhorias funcionais ou de fabricação, em relação aos conectores
modulares, continuaram a surgir.
Se você pesquisar na Internet vai encontrar alguns inventores
para o RJ45 e, provavelmente, entre eles encontrará os nomes citados
anteriormente. Você pode adotar um deles ou entender que o trabalho foi
colaborativo.
O projeto do RJ45, que começou com a história do conector
modular para telefonia, engatou na necessidade de padronização das interfaces
telefônicas e de dados, inclusive sob pressão de algumas demandas jurídicas
sobre até que ponto vai a responsabilidade
da operadora do sistema telefônico.
Apesar de seus 37 anos, se considerarmos que nasceu em 1980, o
RJ45 está resistindo à evolução da taxa de transmissão na rede interna: 10
Mbps, 100 Mbps, 1 Gbps e 10 Gbps e tem atendido bem aos requisitos dos cabeamentos
de rede interna da categoria 5e (100 MHz) até a categoria 6A (500 MHz).
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Fig. 5: Conector RJ45 - não blindado
Fig. 6: Conector RJ45 - blindado
Alguns
fabricantes adicionam características diferenciadas, como é o caso do conector
com chave, da Nexans, para impedir que um operador, por acidente, desencaixe o
cabo do painel de manobra. Esse sistema protege enlaces críticos, como aqueles de servidores, equipamentos PoE
e outros.
Fig. 7: Conector RJ45 seguro - Nexans
A
fim de superar o limite de 500 MHz do RJ45 os fabricantes estão desenvolvendo
novos conectores. A Panduit desenvolveu e patenteou o conector GG45 que possui
a vantagem de se encaixar em uma tomada similar à tomada RJ45 e, dessa forma, a
nova tomada aceita plugs RJ45 tradicionais.
Fig. 8: Conector GG45 - figura extraída do documento
da patente 9,033,725
Fig. 9: Conector GG45 - Nexans
O
fabricante Siemon lançou o sistema Tera para atender aos requisitos da
categoria 7A, informando que seu sistema atinge a frequência de 1,2 GHz.
Fig. 10: Conector Tera - Siemon
Outro aspecto que se desenvolveu foi a instalação de tomadas
em painéis para rack padrão 19 polegadas. O marco mais interessante dessa
trajetória, acredito, foi o surgimento do padrão "Keystone", patenteado pelo fabricante Panduit em 2006. Hoje,
no Brasil, este é o padrão dominante, tanto na montagem em caixas de terminação
na área de trabalho, quanto em painéis descarregados montados em rack.
Com o surgimento do padrão Keystone, surgiram os painéis
descarregados para montagem em rack. A vantagem desses painéis é que aceitam
qualquer conector padrão Keystone, não só os modulares. Há todo tipo de
conector para painel descarregado Keystone: conectores BNC, HDMI, tipo F, etc.
No caso dos enlaces blindados, os painéis descarregados
devem possuir engate de aterramento para as tomadas blindadas que nele serão
instaladas. A figura 11 mostra um painel descarregado da Nexans, montado com diversos
tipos de tomadas modulares, em destaque uma categoria 7A tipo GG45, blindada.
Fig. 11: Painel blindado descarregado - Nexans