*Este artigo é uma versão simplificada da
versão completa, que pode encontrada em http://www.fabiomontoro.com.br/artigos-2/
Introdução
Ouvimos,
muitas vezes, as pessoas dizerem que determinado equipamento eletrônico é
"profissional". Há características específicas que possam diferenciar
um equipamento para classificá-lo como profissional?
Este artigo investiga a resposta para essa questão, focando o reprodutor de áudio. A versão completa do artigo apresenta também as linhas completas de reprodutores profissionais das
marcas Denon-Pro e Marantz-Pro.
Classificar
é sempre difícil e polêmico, mas nos ajuda a explorar, entender e trocar
informações sobre um assunto.
Em geral
gosto de discutir primeiro a classificação em si, depois o mérito.
Dito
isto, classifiquemos os reprodutores de áudio, incluso o CD player, em três
categorias: reprodutor profissional
de áudio, reprodutor para consumidor sofisticado e reprodutor
para consumidor popular.
A tabela 1
mostra alguns indicadores dessas três categorias, baseados nas características
dos equipamentos e seus avaliadores.
Tabela
1
|
Profissional
|
Consumidor
sofisticado
|
Consumidor
popular
|
Motivação da compra
|
Atender uma demanda que visa receita financeira
|
Satisfação pessoal
|
Desejo de entretenimento
|
Avaliador
|
Engenheiro de eletrônica, áudio ou similar
|
Audiófilo experiente com boa sensibilidade auditiva
|
Cidadão comum
|
Principal fator de decisão
|
Atendimento aos requisitos do sistema
|
Qualidade sonora e características funcionais
|
Preço
|
Importância da estética
|
—
|
grande
|
razoável
|
|
|
|
|
Leitura CD
|
depende da aplicação
|
mandatório
|
desejável
|
Leitura USB Flash
|
importante
|
—
|
desejável
|
Leitura SD card
|
desejável
|
—
|
—
|
Ler MP3
|
importante
|
—
|
importante
|
Ler WAVE em 24 bits
|
desejável
|
importante
|
—
|
Leitura a 48 kHz
|
importante
|
importante
|
—
|
Leitura a 96 kHz
|
desejável
|
importante
|
—
|
Leitura a 192 kHz
|
—
|
desejável
|
—
|
Para instalar em rack
|
mandatório
|
—
|
—
|
Com amplificador interno
|
em raras situações
|
nem pensar
|
desejável
|
Saída balanceada 110
|
mandatório
|
desejável
|
—
|
Saída digital AES-3
|
desejável
|
desejável
|
—
|
Distorção harmônica THD
|
importante
|
muito importante
|
—
|
Relação sinal-ruído SNR
|
importante
|
muito importante
|
—
|
|
|
|
|
Faixa de preço no Brasil
|
R$ 1500 a R$ 15 mil
|
R$ 30 mil a R$ 300 mil
|
R$ 200 a R$ 2 mil
|
Uma leitura
da tabela, demonstra, penso eu, que essa classificação em três categorias faz
sentido. Por exemplo, as características subjetivas (primeiro grupo de linhas)
diferem drasticamente de uma categoria para a outra.
Algumas
características técnicas (segundo grupo de linhas) tendem radicalmente para uma
das categorias como, por exemplo, a capacidade do equipamento ser
instalado em rack.
Quanto à
questão da faixa de preços, é também interessante notar que as categorias se
posicionam em ordens de grandeza distintas.
Bem, você
talvez esteja pensando: "...mas o CD não está morrendo?". A resposta
a esta pergunta está fora do escopo deste artigo, mas vale lembrar que
"CD" é apenas um tipo de mídia. Outros tipos de mídia tem surgido -
os equipamentos vão sendo projetados para ler essas mídias. Digamos, então, que
essa questão é irrelevante aqui.
A questão
central deve girar em torno de uma indicador muito comum na engenharia: a
relação benefício-custo. Não é simples, mas esta relação, a princípio,
totalmente subjetiva, pode ser transformada em uma avaliação mais objetiva a
partir da construção de requisitos técnicos que são ou não atendidos pelos
equipamentos, e por desejos subjetivos que o avaliador entende que devem ser
atendidos pelo equipamento.
Uma das
primeiras características que obrigatoriamente temos que considerar na escolha
do equipamento leitor é "que tipos de mídia quero que o equipamento leia".
A tabela 1 apresenta algumas características e aponta suas respectivas importâncias
para cada categoria.
Codificação
digital e formatos de áudio digital
A
codificação digital para armazenar os arquivos de áudio nos diversos tipos de
mídia é uma característica importantíssima, na medida em que define qualidade,
acessibilidade, longevidade e compatibilidade do registro de áudio, entre
outros aspectos.
É conveniente,
portanto, falar uma pouco sobre a codificação digital do sinal de áudio
analógico, uma vez que os reprodutores são, na verdade, leitores de arquivos de
áudio sob o formato digital e devem ser bons reprodutores desses arquivos sob a
forma analógica, ou seja devem possuir um conversor DA (digital-analógico) de
qualidade.
A
codificação sem compactação teoricamente mantém as características originais do
sinal analógico, mas possui informações redundantes (explicadas
matematicamente) que podem ser eliminadas por algum processo de compactação sem
que se perca conteúdo.
Compactação sem perda
Os
processos de compactação sem perda conseguem reduzir o tamanho do arquivo mantendo
as informações essenciais do sinal original.
Compactação com perda
Os
processos de compactação com perda não possuem compromisso com a manutenção das
informações essenciais do sinal original e focam principalmente na redução do
tamanho do arquivo. Assim, conseguem uma compactação bem maior, porém pagando o
preço da perda irreversível das características originais do sinal, o que pode
ser considerado uma perda de qualidade.
Os
formatos de codificação mais comuns são:
Tabela 2
Sem perda,
sem compactação
|
Sem perda,
com compactação
|
Com perda
|
CD
|
FLAC
|
MP3
|
DVD
|
ALAC
|
AAC
|
WAVE
|
|
HE-AAC
|
AIFF
|
|
Vorbis
|
Formato
CD (sem perda, sem compactação)
O CD-DA,
ou Compact Disk para armazenamento de
Áudio, foi lançado em 1982, pelas empresas N.V.Philips e Sony Corporation,
sendo capaz de armazenar 74 minutos de dois canais de áudio (estéreo)
codificados em PCM (Pulse Code Modulation)
com taxa de amostragem de 44,1 kHz e 16 bits por amostra.
Formato
DVD (sem perda, sem compactação)
O áudio
da categoria "DVD-vídeo"
pode estar codificado em LPCM 48 ou 96 kHz ou em 48 kHz em alguns padrões
adicionais.
Formato
WAVE (sem perda, sem compactação)
Arquivo que possui áudio codificado, sem compactação,
normalmente em PCM, definido na especificação "Multimedia Programming Interface and Data Specifications",
publicada pela Microsoft.
O arquivo possui um cabeçalho que carrega diversas
informações sobre o conteúdo, tais como: taxa de amostragem, quantidade de
canais (um ou dois), a taxa de transferência média com que os dados devem ser
transferidos (bps), o formato (PCM ou outro formato registrado), quantidade de
bits por amostra e outros.
Formato
AIFF (sem perda, sem compactação)
O formato AIFF (Audio
Interchhange File Format), desenvolvido em 1988 pela Apple, é similar ao
Wave, também com áudio PCM codificado sem compactação, porém permitindo
metadados como, por exemplo, a capa do disco.
Formato
FLAC (sem perda, comprimido)
FLAC - Free Lossless Audio Codec - é um
padrão de codificação desenvolvido por Josh Coalson, que utiliza um algoritmo
de compactação que reduz o arquivo para cerca de 50% de seu tamanho original, sem perdas.
É um
padrão aberto bem documentado, não proprietário, não está vinculado a patentes
e não exige pagamento de royalties.
Formato
ALAC (sem perda, comprimido)
ALAC - Apple LosslessAudio Codec - é um
padrão criado pela Apple, cujos arquivos de áudio compactados são oferecidos
opcionalmente na loja Apple Store (possui a mesma extensão dos arquivos AAC, ou
seja: .m4a). Ao copiar arquivos de discos
CD para o iTunes no computador, deve-se convertê-los para ALAC se quiser
preservar o conteúdo.
Formato
MP3 (com perda)
MP3 é o nome popular da codificação MPEG-1-Layer3,
para áudio e vídeo, mas com esta sigla estamos nos referindo apenas ao áudio.
É uma codificação com perda de conteúdo, desenvolvida pelo Motion Picture
Experts Group (MPEG), que explora as características cognitivas do ouvido
humano com o objetivo de gerar um conteúdo cuja perda seja imperceptível. Dessa
forma, o algoritmo procura remover apenas supostas informações irrelevantes com
relação à percepção auditiva.
A taxa de amostragem pode ser 32, 44,1 ou 48 kHz.
Suporta sequências com um ou dois canais de áudio,
que podem ter taxas de transmissão de 32 a 320 kbps.
A codificação MP3 consegue fator de compactação variando
de 1:2,7 até 1:24 sobre o arquivo de dados gerados pela amostragem.
Por
exemplo, uma amostragem de 44,1 kHz a 16 bits (CD) gera uma taxa de 44100 x 16
= 705,6 kbps por canal. Com uma compactação de 1:24 chega-se a uma taxa de
aproximada de 29,4 kbps.
Ao lidar
com arquivos de áudio é preciso observar a taxa de transmissão da codificação
MP3. A codificação padrão (defaut) do
iTunes, por exemplo, é 160 kBps. Acima dessa taxa tem 192, 224, 256 e 320 kbps.
Entretanto, poucas pessoas conseguem identificar perda de conteúdo em uma
codificação a 192 kbps comparada a uma a 320 kbps.
O arquivo
de áudio MP3 pode conter, além do áudio propriamente dito, informações
adicionais, como taxa de amostragem, nome da música, etc.
Formato
AAC (com perda)
AAC - Advanced
Audio Coding - é uma codificação com compactação e perda de conteúdo.
Surgiu depois do MP3, com a missão de ser seu
sucessor. Foi adotado pela ISO como padrão de áudio nas especificações MPEG-2 e
MPEG-4. É o formato padrão utilizado pela Apple para seus dispositivos iPod,
iPhone e iPad.
É uma codificação com perda de conteúdo, que possui algumas vantagens em
relação ao MP3: a taxa de amostragem vai até 96 kHz (MP3 vai até 48 kHz) e
suporta até 48 canais de áudio em um fluxo (MP3 suporta 2).
Formato
HE-AAC (com perda)
HE-AAC - High Eficiency AAC - também conhecido como
AAC+, é uma variação da codificação AAC, direcionada para aplicações de baixa
velocidade (64 kbps ou menor) onde se deseja arquivos em baixa velocidade bem
compactados, como o streming de áudio.
Formato
OGG Vorbis (com perda)
Mantido pela Xiphophorus Org Foundation, uma
organização que cria especificações e implementações de referência, o formato Ogg
Vorbis é um padrão aberto (open
source), livre de patentes. Surgiu em 2002, função do encadeamento de
diversos trabalhos de pesquisa liderados pelo engenheiro Chris Montgomery. Os
arquivos nesse formato possuem a extensão .ogg, costumam ser um pouco menores e
com qualidade igual ou superior aos arquivos em MP3
Como
é a escala de qualidade?
Algumas regras
da régua da qualidade são:
·
A codificação sem perda é melhor;
·
Quanto mais bits por amostra, melhor;
·
Quanto mais alta a frequência de amostragem,
melhor.
As consequências
são:
· Quanto melhor a qualidade, mais espaço na mídia de
armazenamento;
· Quanto melhor a qualidade, mais banda de
transmissão será preciso;
Observando
essas três regras e as duas consequências, podemos obter a medida exata do ponto
em que queremos trabalhar. A escolha do reprodutor também será influenciada por
essa medida.
Fabio de Azevedo Montoro
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